Pronto! O presidente Temer acabou de assinar o decreto que manda o exercito tomar conta dos órgãos de segurança do RJ: Policia Civil e Policia Militar. A intervenção é prevista para durar até 31 de dezembro de 2018. Há pouco que esperar dessa nova fase da decadência politico-administrativa do RJ já que o Exercito não pode- sozinho – oferecer ao RJ uma policia nova e competente, presídios decentes e uma prefeitura interessada em atender as necessidades das comunidades carentes. O que os militares conseguiram no dia, a corrupção e a incompetência dos poderes civis ira desfazer anoite.
Existe um risco significante de ver alguns militares se contaminarem pela proximidade com as drogas e o lucro fácil que elas estimulam. Seria uma tragédia nacional. Poluir as Forças Armadas seria o colmo de um processo de submissão diante do poderio do crime organizado; o paroxismo de uma lenta degradação ética e moral que dinamita os logros da Constituição de 1988, o fracasso de uma nação que desiste de se defender frente ao maior inimigo da democracia: o criminoso que tortura, mata e rouba.
Dito isso, não há a menor duvida de que os “negócios” ligados a droga e aos roubos de carga entre outras “festividades” vão diminuir e sofrer reveses importantes. A presença do Exercito enquanto durar vai atrapalhar para valer a maquina de fazer dinheiro do CV, ADA, Terceiro Comando Puro sem omitir as milícias como a Liga da Justiça . Aliás sou um dos poucos a chamar pelo nome aqueles que apertam o gatilho na Linha Amarela ou mandam invadir a Rocinha…estranho…parece que o crime no RJ é obra de uma mão invisível chamada a Violência. A mídia fala da Violência como se fosse a Providencia, uma fatalidade que escapa ao controle humano e contra a qual pouco podemos (fora liberar o uso das drogas…). Somente no Brasil que se fala de “bala perdida”. Não existe bala perdida; muito pelo contrário, se crianças morrem e se ferem é que alguém quis atirar no mesmo espaço onde elas vivem e se locomovem. Contudo, se prefere falar em bala perdida par evitar apontar o dedo aos monstros que massacram a juventude brasileira, ou seja, as máfias. Em 2016, causaram a maioria das mais de 60 000 mortes por homicídio que o Brasil registrou (um recorde mundial).
O baque que o tráfico de entorpecentes no RJ irá sofrer poderia sido evitado se o crime organizado tivesse demostrado mais astucia e menos orgulho. Usando um linguajar menos sofisticado, eu diria que em 2018 será o ano em que as facções irão pagar pela sua imaturidade e falta de cabeça. Uma punição ao amadorismo.
Precisava mesmo de atrapalhar o santíssimo Carnaval carioca com arrastões e assaltos aos próprios artistas? Precisava de mandar espancar um policial civil que quis impedir um roubo a turistas? Mais grave ainda, era necessário interferir no “descanso” do Pezão (Pirai – RJ) e na viagem internacional do Crivella (Alemanha)?
As facções perderam a linha como se fala na gíria carioca. Perderam noção de que a sociedade não tolera a profanação de alguns momentos e espaços altamente simbólicos como Carnaval e a Orla de Copacabana a Ipanema. O crime pode dominar a Maré, ninguém liga; mandar na Rocinha, ninguém perde o sono; matar e estuprar na Ilha do Governador, ninguém ira reclamar nas redes sociais. Mas, arrastão na praia, isso é insuportável! Sobre todo nessa época nossa onde qualquer morador ou turista é um repórter potencial pronto a emitir um FacebookLive por um sim ou um não.
O que deu nos chefões do crime? Ego, orgulho, impulsividade, excesso de entorpecentes? Uma politica mais sensata teria sido de acabar com esses confrontos e dividir a cidade (o Estado?) em áreas de influência exclusiva. Parar de tentar invadir a favela do outro e focar em fazer negócios delimitando territórios. É obvio que nenhuma facção tem a força suficiente para tirar as outras e conseguir um monopólio estadual. Até que eu saiba, somente o PCC paulista atingiu esse grau de poderio.
Há algo errado no próprio modelo de business do narcotráfico fluminense. Vender cocaína em bicos e favelas é anticomercial e perigoso. Traumatiza o freguês porque o obriga a entrar em zonas de conflito e miséria social: isso limita o consumo. Por outro lado, manter a segurança de uma boca de fumo é caríssimo: olheiros, armas pesadas, corrupção policial etc. Mais uma vez, a “solução” poderia vir dos Estados Unidos e especificamente de NY onde os pontos de venda da droga migraram da rua para os apartamentos. Faz tempo que os Crips e os Bloods não gastam dinheiro com domínio territorial, eles preferem “blindar” centenas de apartamentos e prédios onde todo mundo sabe que aí se encontra cocaína, LSD e sei lá qual veneno a moda. Senhores do crime organizado, parem de estragar nossas cidades e inspirem-se no modelo norte-americano! Vocês vão gastar menos bala e deixar nossas ruas um pouco mais seguras!
O que a sociedade quer é que cada um fique no seu cantinho. O asfalto e o morro, bem separados e afastados como se fossem duas épocas históricas diferentes. O Futuro e o Passado: um mundo organizado e progressista vs um universo caótico e bárbaro (sim mandar queimar inimigos no micro-ondas e cortar o cabelo das moças é barbaridade).
Se o crime organizado entender aquilo, ele pode contar com anos felizes e prósperos. Ele tem vários aliados objetivos que conseguiram convencer boa parte da sociedade que prender usuário de cocaína é um absurdo, que combater as drogas é ineficiente e desumano. A logica da liberalização das drogas esquece de um ponto essencial: se a polícia não pode encostar em usuário, como iremos chegar até o fornecedor? Usando drones e satélites? Espiando grupos do whatssap? Se o cliente não falar quem lhe vendeu a droga, a investigação policial fica muito mais difícil. Um brinde ao crime organizado por uma sociedade que aceitou, bem ou mal, que o direito de cada um de curtir “seu barato” é sagrado, custa o que custar!
Em resumo, o RJ tem ainda muita sorte no meio da sua tragédia. As rivalidades entre as máfias impedem que um grupo único chegue a dominar a população. Aqui em São Paulo, temos o PCC que não tolera nenhuma concorrência e, de fato, há muito menos homicídios por aqui do que no RJ. Mata-se muito menos em SP do que no Nordeste ou no Norte onde o PCC não consegue ainda se impor totalmente. E que vai ser de nos amanhã? Quando o PCC virar dono das periferias brasileiras e de quem mora nelas? Iremos chamar de novo o Exercito para nos tirar dessa?
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