O que esperar de um amigo de verdade? Que torça por nós e que fale a verdade com sinceridade e sem demora. É exatamente o que o Professor Ricardo Velez Rodriguez faz nessa entrevista que me concedeu pelo telefone da cidade de Londrina. São 50 minutos de pensamento livre, ousado, voltado para a realidade e iluminado por um senso cívico que faz tanta falta esses dias.
Ricardo Velez Rodriguez é colombiano (nascido em Bogotá em 1943), coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da UFJF, professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme). Docente da Universidade Positivo, Londrina.
Saiu da Colômbia em 1978 onde ensinava Filosofia depois de ter perdido em um ano só dezoito colegas de trabalho, todos professores universitários, alguns de esquerda, outros de direita, assassinados pelos matadores de aluguel a mando dos traficantes e dos grupos extremistas. Encontrou no Brasil, um refúgio para ensinar e pesquisar. Casou duas vezes com brasileira, se fixou no Rio de Janeiro e estudou temas tão diversos como a história do pensamento positivista no Brasil como o Estado patrimonialista na Ibero America. No Rio, o Professor presenciou a gradativa degradação da segurança pública, um episódio a mais de um pesadelo que ele tinha presenciado em Medellín anteriormente. Turbinado pelo narcotráfico, o crime cresceu a ponto de se transformar em companheiro indesejado, cínico e cruel da cidade maravilhosa e da democracia brasileira. De nada ou pouco adiantou lançar alertas aos camaradas brasileiros, insistir que aqui poderia ocorrer algo similar ao que aconteceu na Colômbia: o público e os responsáveis brasileiros simplesmente não levaram em consideração a experiência latino-americana por indiferença, ignorância e complexo de superioridade. Hoje, em 2018, Ricardo Velez Rodriguez observa a intervenção militar no RJ com uma mistura de tristeza e esperança. Perdeu-se muito tempo em tratar um problema seríssimo, mas há de esperar que dessa vez a sociedade abra os olhos e enxergue sua responsabilidade no sucesso ou no fracasso de qualquer política séria de segurança pública.
Algumas declarações do entrevistado:
Tudo se passou na Colômbia como está acontecendo agora no Rio de Janeiro. Corrupção policial e do Judiciário, que termina beneficiando os bandidos. Glamourização do consumo de cocaína pelas elites. Corrupção no Executivo estadual, que faz vista grossa em face de notórias vinculações de um Secretário de Estado com o narcotráfico. Corrupção e fraqueza do Legislativo estadual, que não consegue veicular as legítimas reclamações da cidadania, vítima direta do confronto entre policiais e meliantes. Apologia da criminalidade em raps que apresentam o bandido como herói. Assassinatos sistemáticos de policiais e de jornalistas comprometidos com denunciar as atividades do crime organizado. Ameaças às autoridades toda vez que mostrarem determinação no combate ao narcotráfico. Pusilanimidade dos poderes constituídos, em face da agressividade crescente dos criminosos. Enfim, miopia da própria sociedade civil, que não consegue ver claramente o nexo entre consumo corriqueiro de narcóticos por parte dos seus filhos, e a onda de violência e terrorismo desatada pelos mercadores da morte. Padecemos, no Brasil, da doença da hipermetropia cívica, que nos permite ver com clareza os erros que se passam longe, no cenário mundial, mas que nos impedem, ao mesmo tempo, de observar o que acontece perto de nós.
Trecho do: Violência e Narcotráfico no Rio de Janeiro, perspectivas e impasses no combate ao crime organizado
[In: http://www.defesa.ufjf.br/arq/RV%204.htm]
O processo de pacificação na Colômbia foi militar inicialmente, mas logo foi social, como uma serie de obras sociais como os “parques-bibliotecas”, frutos de parcerias publico privada, 120 dias depois de ter tirado os terroristas, era entregue a população de cada comunidade um complexo educacional e de serviços como posto de saúde, agencia bancaria.
Na Colômbia, como nos Estados Unidos, o chefe da segurança na área metropolitana é o prefeito. Todas as forças de segurança se reportam a ele. Foi do interior das prefeituras que surgiram as propostas de pacificação.
A entrevista completa:
Leave a Comment