O dia internacional da mulher já passou. Representou uma bela ocasião de recordar a dívida coletiva da humanidade com as mulheres. Aqui no Brasil, muitas flores e muitas caixas de chocolate foram oferecidas nos escritórios, nas repartições públicas e dentro de casa. Mas o que vai restar de tudo isso? Quando as flores desvanecerem e o chocolate acabar, qual será o legado desse dia de comemoração e luta?
A situação da mulher é preocupante, injusta e revoltante. Nossa civilização ocidental faliu e continua falindo quando se trata de garantir a igualdade real das mulheres. Fomos para Lua (e voltamos) mas ainda não conseguimos evitar feminicídios, desigualdade salarial e uma miríade de comportamentos que discriminam a mulher. Fora do escopo do dia 08 de março ficaram vários motivos de preocupação. Ninguém ou muito poucos apontaram o dedo para “o elephant in the room” ou seja aqueles problemas óbvios e insuportáveis que afetam a condição feminina no Brasil e na América Latina.
- As mulheres caem diariamente vítimas da violência urbana e de uma insegurança que tomou aspectos dantescos. Na véspera do dia internacional da mulher, a polícia de Fortaleza encontrou as cabeças cortadas de três mulheres que foram sequestradas, torturadas e mutiladas. Os criminosos gravaram a tortura e a colocaram nas redes sociais. De modo geral, nossas cidades viraram um inferno para as mulheres. No Rio de Janeiro, as moças têm o cabelo raspado por um sim ou por um não; em Tijuana, Ciudad Juarez e tantas outras cidades do México, as mulheres somem em números espantosos (centenas por ano) e ninguém sabe o que acontece come elas.
- A pornografia avança e invade todas as casas e não poupa nem crianças. Nada mais fácil do que assistir vídeos mostrando mulheres violentadas e humilhadas. Toda classe de horrores anda solta e poucos se indignam. A cada instante, a sociedade está sitiada por uma ideologia machista e retrógrada. O que o discurso feminista tenta construir de dia, o pornô destrói de noite na intimidade dos lares.
- Continua-se a usar o corpo da mulher como argumento de marketing. Alguns precisam de muitas mulheres semi-nuas e lascivas para nos vender sua “arte” ou sua “musica”. Basta ligar um canal de TV musical e assistir vídeos de hip hop, rap e funk. Milhões de adolescentes vêm nesses vídeos uma fonte de inspiração: estão sendo intoxicados por gente que usa a mulher como objeto. Que seja dito de maneira clara: chamar uma mulher de “bitch”, “danada” ou “noivinha” não é símbolo de emancipação. Muito pelo contrário. É um projeto machista de colocar a mulher em posição de inferioridade.
A lista de preocupações é longa. Há os casamentos precoces (Brasil é campeão regional), as gravidezes precoces, etc. Me limitarei a adicionar mais uma antes de encerrar: o aborto. Em um país onde a liberdade sexual é consenso, o mínimo teria sido flexibilizar as condições de acesso ao aborto. De fato, milhares de mulheres se encontram obrigadas a recorrer a máfias que praticam abortos clandestinos. No dia 08 de março, não vi ninguém levantar a bandeira do direito a abortar. Não sou um fanático dessa pratica, mas o realismo manda autorizar o aborto e colocar essa pratica sobre a fiscalização legitima do Estado.
A foto usada para ilustrar esta matéria vem do videoclip La Ocasion por De la Ghetto, Ozuna, Anuel AA, Arcangel
Bonjour,
Je lis encore sans difficultés la langue portugaise, tellement les deux langues, la française et le portugais, sont proches, mais vous commenter dans votre langue serait trop laborieux. Mais votre article sur le sort des femmes brésiliennes est important, car l’opinion française sur le nouveau Président brésilien lui prête une misogynie. Je vais recommander votre site et cet article à une correspondante influencée par les commentaires des médias français.
Je vous remercie!