Venho lendo várias “analises” jornalísticas e universitárias que me deixam pasmo. O que me compele a escrever as palavras a seguir. O faço sem esperança de ver o cenário mudar já que as únicas vozes autorizadas a falar em público são aquelas que xingam a policia e atacam a família.
Primeiro, a mera existência de Paraisópolis é um escândalo. Como que os prefeitos sucessivos deixaram nascer e crescer uma favela de 100 000 habitantes? Um espaço sem cadastro nem escrituras. Uma região sem nenhuma precaução ambiental ou cuidado com saneamento básico, estabilidade das construções, etc.
Segundo. Paraisópolis recebe uma enxurrada de programas sociais e nada muda simplesmente pelo fato que nada mudará enquanto o crime organizado usar a população como escudo humano. Os moradores (não culpo eles) usam os benefícios sociais de dia e respeitam a lei do trafico de noite. O que vc faria no lugar deles, vc que mora atrás de grades e de guaritas blindadas? O governo (inspirado por ONGs) tem as prioridades invertidas. Deveria primeiro tirar os bandidos do local, e depois entrar com serviços sociais. Escrevi um livro sobre isso, é puro bom senso.
A permanência do crime organizado dentro da favela explica a exasperação das forças de segurança do estado que constatam a diário que os moradores não falam, não ajudam, não colaboram. Isso gera uma enorme distância entre o cidadão e o policial. Isso explica 90% das ocorrências que dão errado nas periferias brasileiras.
Terceiro. Li no Estadão (jornal sério) que o baile funk que começa na quinta e termina na madrugada da segunda é uma “manifestação cultural” que representa “a única opção de lazer” dos moradores. Ora, não vejo pior maneira de ofender a cultura brasileira e a juventude paulista.
Um baile que dura 4 noites e que ocorre na rua não é uma festa: é uma ocupação ilegal das vias públicas. O povo de Paraisópolis não dorme. O direito humano básico ao sossego e ao sono é negado aos moradores de Paraisópolis. Como ousar falar de educação e cidadania se o coitado do aluno não consegue dormir e descansar no fim de semana? Como ousar falar de economia criativa e de start up se as crianças crescem com distúrbios cognitivos por falta de sono e pelo barulho constante?
Funk é uma manifestação musical e comercial. Não é cultura. É talvez sub-cultura. A musica brasileira que o mundo admirou outrora chamava bossa nova, samba e mpb. Quem me dera hoje um Vila Lobos, um Jobim ou o Jorge Bem Jor?
Quantos crianças saem do baile com barriga? Alguém imagina o que é ficar gravida aos 14 anos?
Alias, como explicar a presença de crianças da zona norte no meio de uma favela da zona sul e de madrugada ainda por cima? Não podemos deixar de debater a situação da família brasileira e suas mazelas como a fuga frequente do pai (abandono do lar).
O direito de crianças a rebolar não é uma opção de lazer. O que devemos chamar lazer é cinema, teatro, artes populares, esportes.
Cabia a prefeitura imaginar soluções para transferir o baile até espaços mais apropriados. Do lado da favela, há galpões vazios por culpa da crise econômica: as empresas quebraram e enormes espaços ficarão ociosos.
Não vejo nenhuma objeção em organizar os bailes em fabricas fechadas e estacionamentos afastados.
Obviamente, haverá venda ilegal de álcool e trafico de entorpecentes. Obviamente, haverá músicas que degradam a imagem da mulher brasileira. Mas fiquem tranquilos: nada disso importa ao nosso establishment cultural e jornalístico. O que importa para eles de verdade é culpar as policias e derrubar o pouco que restou da autoridade dos pais sobre seus próprios filhos.
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